domingo, 16 de novembro de 2008

A Macroregião Sul do Rio Grande do Sul e o Contexto Econômico Global

Argemiro Luís Brum[1]
Neste início do século XXI a realidade da Macroregião Sul do Rio Grande do Sul pode ser sintetizada em torno de alguns aspectos relevantes. Em primeiro lugar, a participação demográfica desta região, no contexto do Estado, que já foi largamente de liderança, mesmo porque a colonização do Rio Grande por ali iniciou, cai paulatinamente nas últimas décadas. Neste momento, a mesma se encontra ao redor de 28% do total estadual. Em segundo lugar, o PIB regional, após a pujança do final do século XIX e boa parte do século XX, não representa mais do que 19% do PIB estadual. Por sua vez, a estrutura fundiária pouco evoluiu, permanecendo em torno de propriedades extensivas, em boa parte grandes latifúndios que, na sua origem, funcionaram com forte trabalho escravo. Neste contexto, a região ficou a mercê de poucos produtos primários (agropecuários e minerais), sem grandes evoluções em sua história. Dentre estes produtos, pode-se citar: bovino de corte, arroz, lã, carvão e calcário. Mais recentemente houve uma parcial diversificação em algumas localidades, através da produção de frutas (pêssego, ameixa...), soja, milho e leite. Enfim, a situação social e a qualidade de vida se degrada, puxadas pela crise econômica que se instalou na região.
Dentre os principais entraves que estariam provocando esta situação, pode-se citar o fato de que a base econômica está centrada em atividades pouco dinâmicas, com pequeno potencial para gerar empregos. Ao mesmo tempo, os atores econômicos possuem reduzida capacidade para diversificação econômica e investimentos. Na prática, ainda muito dependentes do Estado, fato que justifica a importância que a região destina ao "projeto" estatal de retomada da Metade Sul. Paralelamente, tem-se uma população pouco articulada num contexto de deficiente infra-estrutura.
Todavia, a região possui potencial para uma real retomada de seu desenvolvimento, dentro de um contexto de melhoria do nível de vida de seus habitantes. Afinal, a mesma está no coração do Mercosul, possui o único porto marítimo do Estado, hoje ocupando o terceiro lugar no país, além de rotas de transportes importantes, embora em estado precário na maioria dos casos. Por outro lado, possui muitos centros de pesquisa e universidades, públicas e privadas, fato que facilita o desenvolvimento científico e a difusão do saber, formando os agentes econômicos e a população em geral. Ao mesmo tempo, merece destaque o fato de que um novo empresariado rural está surgindo, mesmo que lentamente. O mesmo traz consigo uma visão empresarial moderna, consciente das necessidades de investimento tecnológico para fazer frente à competitividade dos mercados.
Esta região, nestas condições, vem enfrentando a globalização mundial e o processo de estabilização econômica do país, com a conseqüente participação nacional na construção das diferentes integrações econômicas, a começar pelo Mercosul. Palco onde o liberalismo econômico se sobrepõe às propostas protecionistas (que defendem uma participação mais aguda do Estado na economia), a competição e a busca pela eficiente especialização se acirra e exige, das diferentes comunidades, uma grande atenção e preparo.
O mundo vive o contexto de uma nova governança onde o Estado dá lugar ao capital privado como mola do movimento econômico. Desta forma, o Estado assume o papel de organizador do processo, criando as condições para o mercado funcionar, e não mais o papel de empresário.
No entanto, o mundo ainda não encontrou uma fórmula convincente de associar o crescimento econômico, ou seja, o aumento da geração de riqueza com um real desenvolvimento econômico, entendido aqui como uma distribuição mais eqüitativa da renda gerada, viabilizando ao maior número possível de habitantes do Planeta uma substancial melhoria em seu bem estar-social, no seu nível de vida.
Países como o Brasil se vêem ainda mais fragilizados neste quadro mundial pois não possuem poupança própria para alavancarem o seu crescimento econômico e, muito menos, um real desenvolvimento. Desta forma, os mesmos continuam dependentes do capital internacional. Paralelamente, o Estado gasta muito e geralmente tem gasto mal. Assim, os dois grandes males econômicos, que vêm entravando a passagem para um estágio melhor, são o déficit em transações correntes (forte gerador da dívida externa) e o déficit público (gerador da dívida interna). Esta crise do Estado, por ser perdulário e geralmente mal administrado, obriga a importantes ajustes, conhecidos como estruturais. Os mesmos exigem reformas de fundo na estrutura de funcionamento do Estado, buscando deixá-lo mais ágil, dinâmico e eficiente economicamente. Enquanto isto não ocorrer, sua possibilidade de realizar investimentos e ser gerador de um certo crescimento econômico, dentro da lógica keynesiana, fica comprometida.
Ao mesmo tempo, deve-se ter consciência que o mundo de hoje não funciona em isolamento. Cada vez mais a interdependência se acentua, acelerada pela globalização que, por sua vez, ganha velocidade em função do avanço da tecnologia, em especial a tecnologia da informação e da informática. O sucesso passa hoje pela compreensão destes fatos.
Em isto sendo uma realidade, os países podem e devem se organizar para ampliarem suas correntes comerciais internacionais. É nesta lógica que a abertura comercial ganha impulso, embora ainda seja assimétrica entre as nações desenvolvidas e subdesenvolvidas. Países como o Brasil devem necessariamente adotar mecanismos de exportação eficientes, gerando produtos competitivos, a fim de ocuparem espaço no comércio mundial. Ao mesmo tempo, soluções estruturais devem permitir ajustar a economia interna para que se amplie igualmente o mercado local. Soluções estas que passam pela estabilidade política (manutenção da democracia), estabilidade econômica (firme controle da inflação e dos gastos públicos), menos impostos que oneram o setor produtivo e lhe retiram competitividade, e maior presença de um Estado voltado aos anseios de sua sociedade.
[1] Professor e atual chefe do Departamento de Economia e Contabilidade (DECon) da UNIJUI, doutor pela EHESS de Paris-França, analista e pesquisador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA).

Nenhum comentário: